segunda-feira, fevereiro 12, 2007

O Acordeão - texto de António Salvado

Com um teclado de melódica limpidez e com botões que desabrocham em acordes e em sons graves, corporalizando cadências ora alegres de regozijo ora magoadas de dramatismo, o acordeão define-se talvez como o instrumento da única sonoridade capaz de harmonizar o caos. E é como um sangue matizado de vibrantes cores que corre, calmo ou tumultuoso, pelas veias da amenidade ou da inquietação. E daí o seu tão peculiar encanto: eufónico companheiro, anima com luminosas branduras a claridade do dia ou cinzela com profundas angústias o negror da noite. Na alguma humildade do seu relativamente recente nascimento, com uma simples escala diatónica no início, o acordeão soube engrandecer-se no fluir do tempo, moldando-se em originais e contínuas capacidades expressivas e em repertórios diversificados, fecundos e amplos. Universalizado, constitui certamente o instrumento que melhor conseguiu conciliar o tradicional e o individual, o popular e o erudito, tornando-se enfim paradigma da realidade que nos afirma que a arte, como expressão humana, é tão somente uma.

1 comentário:

Anónimo disse...

Faz lembrar o Fabião Baptista, no "Reconquista", mas com (mais) "know-how" à mistura. Juntem um acordeão e um computador e verão os Caos e Paraísos que aparecem...!!